casadoxadrezkabab@gmail.com...............................Coordenadas GPS: Latitude: N39º15'43,4" . Longitude: W8º34'56,7"
Blog optimizado para o navegador (web browser) Google Chrome.

domingo, 1 de junho de 2008

Crónicas sobre Xadrez - número 2

Estrutura e Conjuntura


Saldou-se por uma derrota, o desafio do homem contra o computador: tal como o ano passado a luta do Grupo de Xadrez de Santarém contra o computador revelou-se ingrata. Apenas um empate veio salvar a honra do convento. José Carlos Pó, com o seu profundo conhecimento de finais, conseguiu, num jogo muito táctico, obrigar o computador a ceder um empate. Forçando as trocas de peças no sentido de conservar um cavalo face a um bispo branco muito tolhido na sua movimentação por uma estrutura de peões todos em casa branca. No xadrez há uma contabilidade que associa a cada peça um valor consoante a sua capacidade de movimento: uma peça tem um valor tão mais alto quanto maior for a sua mobilidade. Num primeiro sentido, essa mobilidade é potencial e inerente à peça: nas suas casas de partida, antes de serem desenvolvidas, toda a sua força é potencial e proporcional ao número de direcções nas quais se podem mover; o bispo que ocupa as diagonais (e que ataca de 7 a 13 casas) vale 3, a torre que ocupa colunas e linhas (e que portanto se supostamente isolada num tabuleiro ataca sempre 14 casas) vale 5, a dama que sobrepõe o papel dos dois anteriores (com um máximo portanto de 27 casas atacadas) vale 10. Num segundo sentido essa mobilidade é tolhida pela posição das peças, tanto às do adversário como às do próprio jogador: quanto menor for a margem de liberdade das peças, menor passará a ser a cotação dessa peça face ao seu valor nominal. Ora este valor mede-se em peões. Os peões podem por isso ser chamados «carne para canhão», mas há um pequeno pormenor que faz com que haja quem diga que são «a alma do jogo de xadrez»: é a capacidade que têm de se transformar em qualquer peça (de preferência a mais valiosa, a dama); quando se começarem a abrir clareiras nas forças em presença, com baixas devido aos confrontos em que se vão envolvendo, será a sua estrutura que ditará o desfecho de um jogo equilibrado; o primeiro que conseguir furar as linhas inimigas e promover um peão será o vencedor. A estrutura (forma de disposição) de peões é portanto crucial, e tem por objectivo entravar os caminhos às peças inimigas, conservando por outro lado o máximo de mobilidade às próprias, sempre pensando num futuro desenlace já com poucas ou nenhumas peças em jogo. O jogador de defesa pensará mais em termos de estruturas e de planos de longo prazo, feitos de pequenas restrições e envolvimentos limitados (será muito mais prudente e conservador em termos materiais); o jogador de ataque pensa em destabilizar conjunturalmente essa estrutura do dispositivo adversário, oferecendo-lhe vantagens, para que este ao persegui-las ceda nalgum ponto fraco (será muito menos «agarrado» à contabilidade).

by José Fernando in jornal "O Ribatejo", Março 1998

.

Sem comentários: